quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Conto: Encontro da Felicidade

Autora: Karina Gotardi


Era uma vez, um lindo casal que morava numa cidadezinha chamada Boraty. Ela era distante de todo o tipo de movimentação, onde a correria, o stress do dia a dia só existia na cidade grande, ali não.
Shake e Sol eram vistos como o casal perfeito. Atenciosos um com o outro e se amavam muito. Tinham uma vida simples e feliz.

Tudo o que Shake fazia ou pensava era dedicado a Sol. Ela, por sua vez, fazia o mesmo em relação a Shake.
Até que um dia, Sol descobriu que estava grávida. No mesmo instante, foi contar ao Shake sobre a novidade. Ele ficou tão feliz que a levantou no colo, e a beijou  apaixonadamente. Os dois sempre foram ansiosos com relação a isso. O             maior sonho deles era ter um filho, fruto do grande amor que sentiam um pelo outro.

Mas, a gravidez de Sol não foi o suficiente para preencher o vazio que Shake estava sentindo. Ele também sonhava – além de ser pai – ter um futuro brilhante, e se tornar um homem muito rico.

Quando criança, Shake costumava brincar com dois amigos. Max e Ácen. Eles eram muito unidos e não se desgrudavam. Prometeram um ao outro que, um dia eles iriam morar numa cidade grande, estudar numa Universidade e ganhar muito dinheiro.
Mas, o tempo os separou. Logo após a formatura do Ensino Médio, cada um seguiu o seu destino. Mesmo assim, eles nunca esqueceram um do outro.

Certo dia, esses dois amigos de infância foram fazer uma visita a casa de Shake. Afinal desde a formatura, eles não se viam.
Assim que chegaram, ficaram surpresos ao ver a casa de Shake. Pensaram que tinham ido à casa errada por ser uma casa muito simples. Então, Max falou para Ácen:
– Não pode ser esta casa, Ácen! Shake sempre foi muito ambicioso como nós. Impossível ele morar numa casa assim!
– É verdade, Max!
A casa de Shake era de madeira e de cor branca. O descascado da tinta fazia com que a cor da madeira original aparecesse, deixando–a com um aspecto de mal acabada. Era muito pequena, e tinha uma varanda na frente da porta de entrada, cercada de madeira também. 

Os dois ficaram parados olhando um para outro, surpresos. Logo que se aproximaram da entrada, viram uma placa de vime pendurada na porta que dizia:
“LAR DE SHAKE E SOL”. Max procurou ao redor para ver se encontrava uma campainha, mas não conseguiu encontrá–la. A casa não tinha campainha.
Um pouco decepcionados com o que tinham visto, eles então,  começaram a bater palma para ver se alguém os atendia.
Não demorou e Shake os atendeu alegremente.
– Não acredito que são vocês? Meus amigos... – falou Shake emocionado.
Todos começaram a se abraçar e chorar emocionados com o reencontro.
– Venham. Entrem e sentem–se. É um prazer vê–los de novo.
– Para mim também, Shake – disse Ácen.
– Eu também estou muito feliz de te ver, Shake – disse Max.
– É uma surpresa pra mim – disse Shake ainda sem muitas palavras.
– Nós gostaríamos de saber como você está? – perguntou Max, olhando a simplicidade da casa por dentro.
Shake percebeu o olhar desgostoso de Max ao notar sua casa e ficou envergonhado.
– Eu... estou... bem... – gaguejou Shake meio sem graça.
– Como pode viver assim, meu caro amigo? – disse Ácen, abraçando–o com carinho.
Shake ainda muito envergonhado, não respondeu. Abaixou a cabeça, sem conseguir encará–los.
– Você não continuou os estudos? – perguntou Max.
– Não – respondeu Shake ainda de cabeça baixa.
– O que você se tornou? Um carpinteiro? – disse Ácen indignado ao ver a situação do amigo.
Shake fez um sinal com a cabeça de sim.
– Eu me tornei um médico – confirmou Max.
– E eu me tornei um advogado – disse Ácen.
– Como pode fazer isso? – Os dois amigos perguntaram juntos.
– Eu não consegui – disse Shake suspirando, com os olhos cheios de água.
– Não fique assim. Nós viemos te buscar. – Disse Max afagando o cabelo de Shake.
– Como vieram me buscar? – perguntou Shake surpreso.
– Nós estamos morando no Rio de Janeiro – disse Ácen. – Você quer vir com a gente? Lá, você poderá voltar a estudar, trabalhar e ganhar muito dinheiro. Tem um emprego certinho pra você. 
– É verdade, Shake – afirmou Max.
– Eu tenho que pensar. Sol está grávida.
Os amigos ficaram surpresos com a notícia da gravidez de Sol, mas não desistiram. Continuaram a insistir. Eles queriam tirá–lo daquele lugar de qualquer maneira. Eles conheciam Shake o suficiente. para saber que ele não iria recusar aquela proposta.
Por sorte, Sol não estava em casa naquele momento. Ela tinha saído fazer compras.
– Está bem. Eu aceito – disse Shake num impulso.
– Ótimo! – disse Max abraçando o amigo.
– Que bom, Shake! – disse Ácen o abraçando também. – Eu sabia que você não ia recusar. Afinal você sempre gostou de dinheiro.
– Isso é verdade! – disse Shake sorrindo.
– Nós vamos embora amanhã cedo. Estamos hospedados no hotel aqui da cidade. Vamos ficar te esperando. Ok?
– Ok? Podem me esperar. Eu vou estar lá – disse Shake mais animado.
Assim que os dois foram embora, Sol chegou.
Shake não contou a Sol, sobre a visita dos amigos. Ela percebeu que ele estava diferente, mas não comentou nada.
À noite, Shake não conseguiu dormir. Ficou pensando na decisão que tomara.
Sua ambição falou mais alto do que o amor que ele sentia por ela. No seu coração, ele sabia que Sol era a mulher da vida dele, e, que, jamais a esqueceria.
Suas lágrimas escorriam pelo seu rosto ao vê–la dormindo ao seu lado. Então, pensou:
“Eu tenho que ir embora. Eu preciso lutar e dar uma vida melhor pra vocês.”
Não demorou, Shake fez as malas e saiu.
No dia seguinte, Sol acordou apenas com o perfume de Shake pelo quarto todo. Ao seu lado, tinha um bilhete de Shake sobre o travesseiro que dizia:
“Sol. Você sabe que eu te amo, mas eu tive que ir embora. Um dia eu volto. Pode me esperar. Beijos. Shake.”
Sol, desesperada, começou a procurá–lo pela casa, a correr em prantos, de um lado para o outro, sem encontrá–lo. Revoltada e sentindo–se desamparada, ela prometeu que iria cuidar do seu filho.
Ela passou os nove meses de gestação em lágrimas. Seu coração ficou aos pedaços com a partida de Shake.
Mas, ao nascer Iara, ela passou a dedicar todo o seu tempo à filha. Iara só lhe trazia felicidade.
Sol não desistiu de lutar para dar uma vida melhor a ela. Então,  decidiu que iria vencer na vida. Voltou a estudar e trabalhar. Começou a ganhar muito dinheiro com a profissão que exercia e se destacou na sociedade. Tornou–se uma pessoa muito importante.
Passaram–se 10 anos desde que Shake fora embora.
Durante todo esse tempo, Iara nunca deixou de perguntar pelo pai. Todas as vezes que ela perguntava, Sol respondia que ele tinha ido embora e que ela não sabia onde ele estava.
Ao ver a tristeza da filha por não conhecer o pai, Sol decide ir procurá–lo. Levou Iara junto com ela, caso o encontrasse para conhecê–la.

Quando Sol encontra Shake, fica surpresa com o que vê.
Ela fica sabendo, que ele não conseguiu dar conta do serviço que os dois amigos tinham arrumado para ele, e, que, os mesmos, o ofenderam e o desprezaram sem compaixão.
Shake, então, sem dinheiro e sem emprego resolveu se casar. Casou–se com Mary. Uma mulher muito rica e com ela teve dois filhos: Rege e André.

Sol fica enfurecida quando soube que ele tinha se casado. Aproveita a oportunidade e diz muitas verdades a ele. Ela diz que se sentiu desamparada, abandonada e que jamais iria perdoá–lo por isso.

– Sol, eu nunca deixei de te amar – disse Shake arrependido. – Por favor, me perdoa. Eu quero voltar com você.
– NUNCA – gritou Sol enraivecida.
– Por favor? – implorou ele.
– Eu não quero você de volta – falou Sol decidida.
Iara começa a chorar ao ver a mãe tão determinada.
– Por favor,  mamãe. Aceite o papai de volta? – pede Iara chorando.
– Não. Iara não me peça isso – respondeu Sol.
Iara vendo que a mãe não mudava de idéia calou–se.

Ao ouvir a declaração de Shake para Sol, Mary fica muito zangada.
Ela o coloca para fora de casa e decide deixá-lo nenhum dinheiro.
O único direito que ele tinha, era de ver os filhos uma vez por mês.
Sol volta para Boraty com a filha, lamentando o ocorrido.
Sentindo–se culpada por não ter atendido ao pedido da filha, ela permite que o pai também vá visitá–la uma vez por mês.

Shake inconformado com o que tinha feito pensou:
“Parti em rumo à felicidade e fui ao encontro da minha tristeza. Achei que iria ganhar muito dinheiro e acabei perdendo tudo.”

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