sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conto: A Realização De Um Sonho

Autora: Camila Almeida


Havia uma moça que se chamava Gabriela. Ela era muito bonita. Tinha olhos azuis, loira, de cabelos lisos e compridos. Era magra, e, também, tinha um sorriso encantador.  
Ela tinha 18 anos e morava com sua família em uma fazenda.
Essa fazenda era de um homem muito rico, o qual, também, era dono de muitas terras na cidade de Abiacara, região de Mato Grosso do Sul.
Sr Paulo, como era chamado, arrendou uma de suas terras para o Sr João pai de Gabriela, com o intuito de cultivar café e hortaliças. O acordo foi firmado mediante um contrato, onde dizia que, 80% dos lucros seria do proprietário, e 20% do Sr João.
A porcentagem do Sr João fez com que ele acumulasse uma dívida com o Sr Paulo, pois as despesas com o plantio eram muito grandes.
Sr João, praticamente, não tinha lucro. A única vantagem do arrendamento daquelas terras, era a casa que o proprietário cedia para ele morar com a família, que por sinal, era uma casa muito humilde. Fora isso, Sr João não recebia mais nenhum benefício.

Com o tempo, a dívida do Sr João foi aumentando. Mas, o Sr Paulo, apenas o cobrava quando ele precisava de dinheiro.  Ele sabia que o Sr João, raramente, tinha dinheiro para pagá–lo. As despesas com a sua filha Gabriela lhe tomavam quase todo o seu orçamento.  

Gabriela sofreu um acidente quando ela tinha  6 anos. Seu pai bateu o carro numa árvore, quando ele estava voltando da igreja, e, Gabriela estava sem o cinto de segurança. Com isso, ela teve problemas na coluna e não pode mais andar. Mas, ela nunca se sentiu infeliz por causa disso. Pelo contrário. Ela era muito feliz e tinha esperança de poder voltar a andar um dia. Os médicos disseram, na ocasião do acidente, que se ela fizesse sessões de fisioterapia, as chances de ela voltar a andar eram muito boas. No entanto, ela nunca fez nenhuma sessão de fisioterapia devido à distância de onde morava, e, também, o valor. Era um tratamento muito caro e jamais o Sr João pôde pagar.

A vida, também, não lhe deu oportunidade de estudar. Apesar de ser inteligente, ela não teve condições de frequentar uma escola especial. A única escola que ela poderia ter frequentado ficava na capital. Uma distancia de 500 kilometros das terras de onde morava. Impossível para quem tinha uma vida financeira tão difícil. Mesmo assim, ela não desanimou.

Gabriela tinha mais duas irmãs.  Célia de 16 e Tamara de 15 anos. As duas trabalhavam na lavoura junto com a sua mãe Dna Maria e o Sr João.

Certo dia, Gabriela estava na sala assistindo televisão, quando de repente ela começa a ouvir uma conversa entre os seus pais. Eles estavam no quarto conversando de porta fechada. Ela mais que depressa, se próxima da porta e ouve o que estavam falando. Apesar de a porta estar fechada, ela conseguiu ouvir perfeitamente.

– Maria. Nós vamos ter que trabalhar em dobro ou, caso contrário, nossa filha vai ter que trabalhar também – disse Sr João preocupado.
Gabriela continuou quieta, ouvindo a conversa. Quando Sr João se referiu a “nossa filha”, ela deduziu que só poderiam estar falando sobre ela, pois era a única que não trabalhava na casa.

– Isso é impossível – disse Dna Maria indignada com o comentário do Sr João. 


– Temos que tomar alguma providência. A dívida está aumentando – disse Sr João um pouco alterado.

– Eu sei. Mas, não há o que fazer. E, também, não podemos sobrecarregar as outras meninas. Elas têm escola, estão sem tempo para trabalhar mais do que já estão trabalhando. Além do que, elas são menores de idade. Isso é injusto! – disse Dna Maria ainda abismada.

Gabriela se entristeceu ao ouvir a conversa dos pais. Ela se sentiu um estorvo na vida deles. Uma pessoa a mais para sustentar e uma a menos para ajudar. Sem esperar a resposta do pai, ela se dirigiu para a cozinha em lágrimas e falou em voz alta.

– Eu posso trabalhar como faxineira na casa do Sr Paulo – disse ela surpresa com a idéia que teve.

Sem Gabriela esperar, seus pais estavam atrás dela na cozinha e escutaram o que ela havia falado. Eles perceberam que ela tinha escutado a conversa que haviam tido no quarto.

– Não. Definitivamente não – disse Sr João decidido.

Dna Maria levou um susto ao ouvir o comentário da filha. Em prantos e sem conseguir consertar a situação, Dna maria sai correndo da cozinha e vai para o quarto. Tudo o que ela menos queria, era que a filha se sentisse rejeitada pela família.

– Por favor, pai? Eu posso trabalhar – disse Gabriela.
– Eu não quero ouvir mais nada – disse Sr João retirando–se com uma xícara de café na mão.

Passou–se um mês, e, ninguém havia mais tocado no assunto a respeito de Gabriela trabalhar como faxineira.
A única esperança de ela poder ajudar a família e de ficar próximo ao seu amor, tinha sido recusada.

O amor de Gabriela era o filho do Sr Paulo. Ele se chamava Hugo e tinha a mesma idade dela.

Hugo era um homem muito bonito, com um corpo bem definido devido aos exercícios físicos que praticava, mas, aparentemente, orgulhoso. Não se misturava com os empregados do seu pai.
Desde criança, Gabriela era apaixonada por ele. Ela pensava que um dia, Deus iria dar uma oportunidade de Hugo notá–la como mulher.
Não demorou, e essa oportunidade chegou.

Sr Paulo havia somado o valor da dívida do Sr João, e viu que, a cada dia a dívida aumentava. Então, para que ele começasse a pagá–lo, ele decidiu que Gabriela poderia trabalhar na sua casa – como faxineira – para amenizar o valor da dívida com o seu salário.  Sendo assim, Sr Paulo foi comunicar ao Sr João a decisão que tomara.

– João? – chamou Sr Paulo.
– Sim, senhor?  – respondeu Sr João humildemente.
–  Eu gostaria de conversar com você? A sós, se possível – disse Sr Paulo firmemente.
– Aconteceu alguma coisa, Sr Paulo? – perguntou Sr João curioso.
– Sim, mas não é nada grave – respondeu Sr Paulo prontamente.
As duas irmãs, logo em seguida, levaram Gabriela para o campo deixando–os as sós para que pudessem conversar em particular.
– João – começou o Sr Paulo a falar. – Eu estive pensando em uma maneira de você começar a me pagar.
– Como, senhor?
– Gabriela pode trabalhar de faxineira na minha casa. Assim, o que ela ganhar será revertido para amenizar sua dívida. O que você acha?
– Nossa! O senhor adivinhou o pensamento dela! – disse Sr João surpreso. – Há um mês, exatamente, ela comentou a respeito disso.
– Você concorda então? – perguntou Sr Paulo.
– Não, senhor. Ela não vai conseguir trabalhar. O que ela poderá fazer numa cadeira de rodas?
– Muitas coisas. Serviços leves dentro do seu limite.
Sr João abaixou a cabeça e perguntou.
– Eu... Não tenho alternativa, senhor?
– Não. Por enquanto não. Essa é a única alternativa.

Sem contestar, Sr Joao concorda com o Sr Paulo.
A notícia é anunciada a família assim que voltaram do campo. As irmãs ficaram chocadas com a proposta do Sr Paulo.
– Impossível, pai! – disse Tamara. – O que ela vai conseguir fazer?
Gabriela, então,  intervém.
– Eu quero trabalhar. Posso não andar, mas tenho braços – disse Gabriela gesticulando os braços.
– Você está louca? – Perguntou Célia.
– Não. É isso mesmo o que eu quero. – Ela falou normalmente sem demonstrar surpresa com a situação. Mas, no seu coração, ela estava irradiante por saber que iria estar ao lado do homem que amava.
Dna Maria ficou indignada, e tentou impedir de qualquer maneira que Gabriela fosse trabalhar na casa do Sr Paulo.
– Você não pode concordar com isso, João – disse Dna Maria exaltada.
– Eu não tenho escolha. Não temos como pagar a dívida – falou Sr João aborrecido.
– Então... Foi você que falou com Sr Paulo sobre essa idéia absurda?
– Não. Por incrível que pareça, foi o Sr. Paulo que teve essa idéia – disse Sr João.
– Nós já havíamos discutido sobre isso, e você tinha concordado de ela não trabalhar – insistiu Dna Maria.
– Eu sei. Mas, essa foi à única maneira que nós encontramos para eu começar a pagar essa dívida. Parece que o Sr Paulo adivinhou o pensamento de Gabriela.  
– Disso eu não tenho dúvida – disse Dna Maria ainda indignada com Sr. João.

No dia seguinte, bem cedo, um carro aparece na frente da casa do Sr João.
Sr Paulo havia mandado o seu motorista para buscar Gabriela, dizendo que ela tinha começar a trabalhar rapidamente.

Assim que ela chega à casa do Sr Paulo, se depara com uma mansão. A casa tinha dois andares, um jardim bem cuidado que ficava logo a frente da entrada e uma bela piscina no lado direito.

Gabriela não conseguiu conter sua exclamação.
– Nossa! Que casa linda!

O motorista leva Gabriela para conhecer a casa e aproveita para apresentá–la aos outros  empregados.
A governanta, responsável pela limpeza da casa, determina que Gabriela, limpasse somente na parte inferior da casa. Como: tirar o pó dos móveis, dar brilho nos cristais e nas porcelanas também. Gabriela adorou o seu trabalho.

Os dias foram passando e Gabriela sentia–se cada vez mais feliz por estar perto de Hugo. Ela sempre o observava, quando ele subia e descia a escada.
Até que, um dia ele percebeu sua curiosidade e perguntou a ela.
– Gostaria de conhecer lá em cima?  
Gabriela levou um susto com a sua pergunta, pois estava tão distraída com o seu trabalho  que não tinha percebido aproximação dele. Mesmo assim, ela conseguiu responder.
– Sim – sua voz saiu trêmula.

Ele, carinhosamente, a pega no colo e a leva até o seu quarto. No momento em que ele a pegou no colo, seus olhares se encontraram.
Gabriela, muito sem jeito, tentou disfarçar sua emoção, mas foi inútil. Seu coração estava disparado. Assim que chegaram, ele a colocou na sua cama e começaram a conversar.

Hugo descobre que Gabriela não sabia ler e começa alfabetizá–la. Todos os dias ele lia uma historia para ela. A amizade entre eles foi crescendo até que se tornou uma grande paixão.
O amor entre os dois foi aumentado ao longo do tempo.

A partir do momento em que ele resolve pagar o tratamento de fisioterapia para ela, ele a pede em casamento. Gabriela, sem palavras, aceita se casar com ele muito emocionada.

Ela começa, então, se esforçar nos exercícios físicos obtendo um retorno muito rápido.
Depois de um ano, Gabriela já estava andando.
A emoção ao voltar andar toma conta do seu coração. Ela ainda não acreditava que estava livre daquela cadeira de rodas. Naquele momento ela soube que, ela poderia ser verdadeiramente a mulher dele.
Os dois se casam na fazenda e vão passar a lua de mel na Europa. Hugo a leva para conhecer vários lugares.
A família de Gabriela passa a morar na mansão. Mesmo assim, Sr Joao continuou a trabalhar para o Sr Paulo. Durante a lua de mel, Gabriela realiza o seu sonho de comprar muitos presentes para a família.
A felicidade é completa. A dívida foi quitada e Gabriela começou a estudar. Hugo continuou seus estudos. Ele queria ser médico.  

Mas, o tempo se encarregou de trazer uma tristeza muito grande na vida de Gabriela.
Ela percebia que o marido tinha muitas dores de cabeça, mas não falava nada. As dores foram piorando, até que os médicos descobriram que Hugo tinha um tumor cerebral.
Antes de ser internado ele disse a Gabriela.
– Nunca é tarde para olhar os degraus de uma escada.
Gabriela, em lágrimas, o beijou ardentemente e disse.
– Eu sempre vou olhar os degraus de uma escada.
Os dois sabiam profundamente o significado daquela frase. Foi através daqueles degraus, que Hugo pode notá–la.  As lembranças, do sobe e desce da escada –  na mansão – não lhe saíram mais da cabeça.
Hugo veio a falecer depois de três meses em coma.

O sofrimento de Gabriela foi inexplicável. Durante muito tempo, ela não conseguiu conduzir sua vida sem ele. Emagreceu e sentiu–se muito infeliz.
Por fim, ela resolve realizar o último sonho do marido que era ser médico.
Gabriela resolve entrar para a faculdade de medicina e torna–se uma ótima médica.

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